19/10/2017

"Histérica" e "forte": visões sobre as mulheres negras

Angela Davis. Imagem: Reprodução. 

     A visão racista em torno das mulheres negras é que as mesmas gritam ao invés de falar e que são capazes de suportar situações extremamente difíceis, situações que uma outra pessoa talvez não suportaria. O fato é que as mulheres negras passam por inúmeras situações difíceis em seu cotidiano e, para não serem injustiçadas (já que o racismo é latente), reivindicam seus direitos a todo instante. Este fato é enxergado pela ótica branca como "histeria" e "mimimi". 
     As mulheres negras são vistas como pessoas que estão a gritar a todo instante, é como se não soubessem falar de outra maneira. Os filmes, norte-americanos e até brasileiros, reproduzem tais estereótipos. Em tais obras cinematográficas, as mulheres negras estão sempre falando alto e exagerando nas gesticulações e expressões faciais. Por outro lado, a mulher branca é sempre doce, gentil, contida e educada. Tais estereótipos se mostram de forma latente quando há um diálogo entre a mulher negra e a branca. Além disso, as mulheres negras são na maioria das vezes vistas como "guerreiras", "batalhadoras" e que "correm atrás". Tais concepções colocam a mulher como um ser mais bruto que a mulher branca, o que não é verdade. 

Whoopi Goldberg ao lado de Patrick Swayze (1952-2009) em cena de Ghost: do outro lado da vida (1990). Neste filme, o personagem do branco Patrick é sempre contido e educado, ao passo que o de Whoopi é o de uma mulher expansiva e que fala o que pensa. Imagem: Reprodução. 

     A mulher negra, assim como a mulher branca, é capaz de amar e de agir com firmeza quando preciso. A questão é que a mulher negra carrega dois estigmas: o do sexo e o da cor. Por conta disso, é ela quem sustenta a estrutura racista e patriarcal de uma sociedade. Assim, ela sofre preconceito por ser mulher e também por ser negra. O cabelo da mulher preta é motivo de "piada", a cor da mulher preta é motivo de "piada", o corpo da mulher preta é motivo de "piada" e por aí vai. É preconceito por todo lado. Além disso, pelo fato de a maioria das mulheres negras morarem na periferia, elas têm a casa invadida pela Polícia Militar (PM), têm os filhos mortos pela mesma e têm os filhos vítimas de ações arbitrárias também executadas pela PM. É violência o tempo todo. Além disso, por várias razões (abandono do esposo, separações e por serem mães solteiras por exemplo) as mulheres negras é que são as chefes de família em muitos lares. Além de trabalharem fora a fim de garantir o sustento de seus lares, as mulheres negras têm que cuidar (na maioria das vezes sozinha) de seus filhos e da casa. Toda essa situação aqui descrita resumidamente faz com que a mulher negra tenha que se impor na maior parte do tempo, já que se não fizer isso não terão os seus direitos garantidos. Entretanto, aos olhos do branco, o grande beneficiado deste sistema patriarcal e machista, não tem razão para uma mulher negra se comportar desta maneira. Isso faz com que o branco veja a mulher negra como "histérica", "nervosa" e "louca". Tais adjetivos reforçam o racismo vivido pelas mulheres negras e tentam deslegitimar todas as reivindicações da mulher negra e do movimento negro de forma geral.

Conclusão

     A mulher negra não é mais forte que  a mulher branca e nem mais forte do que qualquer outra pessoa. Além disso, a mulher negra não é "histérica" e nem coisa parecida. O que diferencia as mulheres negras das demais é o fato de as mesmas estarem na base da estrutura desta sociedade racista e patriarcal. Esta posição coloca as mulheres pretas sob constantes ataques machistas e também racistas, fazendo com que as mesmas tenham de se impor o tempo todo. 

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