08/05/2018

Rio de Janeiro - a eterna capital do Brasil

Cristo Redentor e o Pão de Açúcar ao fundo. Ambos são os pontos turísticos mais conhecidos da cidade do Rio de Janeiro. Imagem: Reprodução. 

     A cidade do Rio de Janeiro é talvez a cidade mais conhecida do Brasil e também uma das mais conhecidas do mundo. A cidade do Rio de Janeiro pode não ser a mais a cidade centro da política brasileira e nem a cidade mais rica economicamente falando, mas sem dúvidas o Rio de Janeiro ainda é a capital cultural do Brasil.
      Para entender a posição de representatividade que o Rio de Janeiro tem no Brasil e até mesmo no mundo, é preciso dar uma olhada na História. A primeira capital do Brasil foi Salvador (BA). A razão da escolha de uma cidade da região nordeste do país para ser a capital se deve ao fato de no momento a plantação e a exportação da cana de açúcar (que deu muito certo no nordeste) ser algo muito lucrativo. Entretanto, a exportação da cana de açúcar começou a entrar em queda por conta da concorrência com a cana de açúcar plantada no Caribe e também no continente asiático. Foi neste momento que descobriram na região que hoje é o estado de Minas Gerais ouro e pedras preciosas. O ouro e os demais metais preciosos eram extraídos nesta região e, antes de irem para o mercado externo, tinham por último destino a cidade do Rio de Janeiro. Por esta razão, a capital deixa de ser Salvador (BA) e passa a ser a cidade do Rio de Janeiro. Assim como Salvador, a cidade do Rio de Janeiro passou a ser a capital por razões econômicas. Isso foi em 1763.

Quadro ilustrando a vinda da Família Real portuguesa e da corte para o Brasil. Isso foi no ano de 1808. A autoria da obra é desconhecida. Imagem: Reprodução. 

      Entretanto, o papel da cidade do Rio de Janeiro no país ganhou outros patamares após a vinda da Família Real portuguesa e a corte para o Brasil em 1808. Isso aconteceu porque Napoleão Bonaparte (1796 - 1821) estava invadindo vários países da Europa e queria fazer o mesmo com Portugal, caso o país não parasse de ter relações comerciais com a Inglaterra, país a quem Napoleão impôs o chamado Bloqueio Continental. Portugal não queria findar suas relações com a Inglaterra (de quem era dependente economicamente), mas também não queria ser invadido por Napoleão. Desta forma, a saída encontrada foi fugir para o Brasil. E assim, sob a escolta naval da marinha inglesa, incontáveis navios trazendo a família real, a corte e muitos documentos e livros chegaram ao Brasil em 1808. Com isso, o Brasil foi designado oficialmente como Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815) e houve também a Abertura dos Portos às Nações Amigas (1808), dando ao Brasil a possibilidade de negociar com outros países, uma vez que com o Pacto Colonial o Brasil só podia exportar produtos primários (matéria-prima) para a metrópole. Além disso, por conta deste mesmo pacto, o Brasil não podia ter indústrias. Entretanto, isso mudou, e a independência, que viria em 1822, era só uma questão de tempo.
      Com a vinda da Família Real portuguesa e sua corte para a cidade do Rio de Janeiro, a mesma passou a  ser o centro do país. Uma vez que a realeza portuguesa estava na cidade, todos queriam estar na mesma. Além disso, a moda europeia, que já era muito copiada na América Portuguesa, passou a ser ainda mais copiada depois que os reis de Portugal vieram para o Brasil. Assim, tudo o que a realeza vestia e fazia, era instantaneamente copiado pelos brasileiros. Vale lembrar também que com a chegada destas pessoas ilustres, houve uma tentativa de modernizar o Brasil. Assim, criaram a Biblioteca Real (1810), o Jardim Botânico (1811), o Museu Real (1818) e a fundação do primeiro banco do Brasil (1808). Desta forma, o Rio de Janeiro era a capital política, econômica e também cultural do Brasil. Este status, obtido após a vinda da nobreza portuguesa ao Brasil, permaneceu ao longo de todo o período imperial do país (1822 - 1889) e até mesmo depois do golpe militar republicano, em 1889. Isso porque, embora o período imperial tivesse chegado ao fim, o Rio de Janeiro continuou sendo a capital do Brasil durante parte do período republicano brasileiro. Só que agora a residência do governante não era mais a Quinta da Boa Vista, situada no bairro de São Cristóvão, mas sim o Palácio do Catete, localizado no bairro do Flamengo. Atualmente, este palácio é o Museu da República, inaugurado em 1960 pelo então Presidente da República Juscelino Kubitschek (1902 -1976) depois da inauguração de Brasília. O Palácio do Catete foi palco de diversos eventos históricos, como por exemplo: a morte do então presidente Afonso Pena em 1909, a assinatura da declaração de guerra contra a Alemanha em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial (1914 -1918); a visita e a hospedagem do cardeal Eugenio Pacelli, futuro papa Pio XII (1876 - 1958), em 1934; a declaração de guerra contra o Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), em 1942 e o suicídio de Getúlio Vargas em 1954, com um tiro no coração.

Fachada do Palácio do Catete, atual e popularmente conhecido como Museu da República. Imagem: Reprodução. 

      O Rio de Janeiro foi a capital do Brasil por quase dois séculos, até que em 1960 a cidade perde o posto de capital para Brasília. Este fato ocorreu durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956 - 1961). A ideia de mudar a capital do país era um projeto antigo e JK apenas tirou o mesmo do papel. A ideia de construir uma nova capital no centro do país  estava prevista nas constituições de 1891, 1934 e 1946. Juscelino só colocou em prática este projeto antigo. Uma das razões para a mudança de capital para o centro-oeste do país era o fato de quererem povoar esta região e também torná-la atrativa do ponto de vista econômico, uma vez que as regiões mais povoadas e que também concentravam a economia eram a região sudeste, em especial Rio de Janeiro e São Paulo.
     Mesmo não sendo mais a capital política do país, o Rio de Janeiro é a capital cultural do país, é a cidade modelo para as demais. Uma das provas deste fato é que as manifestações que entraram para a história do Brasil ocorreram em solo carioca. Foi no Rio de Janeiro que uma multidão de pessoas foram às ruas chorar  a morte do então presidente Vargas, em 1954. Fato semelhante ocorreria quase 40 anos depois, quando o piloto Ayrton Senna morreu em um acidente automobilístico, em 1994. Foi na cidade maravilhosa que João Goulart (1918 - 1976) fez um discurso em um comício realizado na Central do Brasil, estação de trens da cidade, semanas antes do golpe civil-militar de 1964. Foi também na cidade do Rio de Janeiro que houve a manifestação que a História denominou de Passeata dos Cem Mil, uma passeada que em 1968 reuniu milhares pessoas que queriam o fim da ditadura. O Rio de Janeiro também foi palco de uma das maiores manifestações que pediam eleições diretas para presidente, em 1984, um ano antes do fim da ditadura. O Rio de Janeiro costuma ser o palco das maiores manifestações políticas do país. A cidade sempre tem um grande número de adesão quando o assunto é manifestação. As mais recentes ocorreram durante as chamadas Jornadas de Junho de 2013. Aproximadamente cem mil pessoas lotaram as ruas do centro da cidade expondo as suas insatisfações com relação à política. Por volta de três dias depois, cerca de um milhão de pessoas fecharam a Avenida Presidente Vargas (a rua mais importante do centro da cidade do Rio) fazendo a mesma coisa. A morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018, teve repercussão internacional. Houve manifestações em várias cidades do Brasil. Porém, sem dúvida alguma, as maiores manifestações ocorreram na cidade do Rio de Janeiro. Houve uma manifestação no dia 15 de março de 2018 (mesmo dia em que Marielle e Anderson foram enterrados) que reuniu milhares de pessoas no centro da cidade do Rio de Janeiro. Tal manifestação reuniu professores, intelectuais, universitários, artistas, políticos, militantes de movimentos negros, feministas, LGBTs e profissionais de diversas áreas. Por conta de tudo isso, muitas vezes a história do Brasil é contada a partir da cidade do Rio de Janeiro.

Milhares de pessoas se reúnem na Cinelândia pedindo justiça pelas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Reparem no imponente Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O mesmo é um dos mais importantes teatros brasileiros. Imagem: Reprodução. 

     Não é somente as manifestações políticas que fazem da cidade do Rio uma "cidade-espelho". As paisagens da cidade atraem turistas de outras regiões do Brasil e também de outros países. A praia de Copacabana, palco de shows de estrelas  nacionais e internacionais, manifestações e também onde ocorre a tradicional queima de fogos de Ano Novo, atrai muitos turistas. Eles se sentem atraídos pelo fato da região ter sido palco de fatos importantes da História, pela beleza da praia e também pelo famoso calcadão de listras pretas e brancas, o chamado Calçadão de Copacabana. Isso sem contar o lendário Copacabana Palace, hotel tradicional da cidade que atrai muitos turistas e que também costuma acolher astros nacionais e internacionais que se apresentam na cidade. Tem também o Bondinho do Pão de Açúcar, teleférico localizado no bairro da Urca e que liga a Praia Vermelha ao Morro da Urca e ao Morro do Pão de Açúcar. Destaque também para o Cristo Redentor, estátua que retrata Jesus Cristo de braços abertos e que está localizada no topo do Morro do Corcovado, no Parque Nacional da Tijuca, de onde se pode ver parte considerável da cidade do Rio de Janeiro. Vale citar também a Floresta da Tijuca, a maior floresta urbana do mundo. Muitas cidades do mundo se destacam por suas estátuas e monumentos belos. Entretanto, o diferencial da cidade do Rio de Janeiro é que as paisagens são naturais.

PROJAC, local onde são gravadas as novelas da TV Globo, bem como série, seriado e programas de TV. O PROJAC fica em Jacarepaguá, Zona Oeste da cidade do Rio e tem 1,65 milhão de metros quadrados, sendo que um milhão é de vegetação nativa, uma vez que o estúdio está encravado na Mata Atlântica. Inaugurado em 1995, o PROJAC (que também é conhecido como Central Globo de Produções ou Fábrica de Sonhos) é o maior centro de produção da América Latina. Imagem: Central Globo de Produções (CGP)/TV Globo.  

      Outro fato que faz com que a cidade do Rio seja vista como "cidade-espelho" para o restante do país está no fato de a TV Globo, maior e principal emissora de TV do país e também uma das maiores do mundo, ter a maioria de suas novelas ambientadas na cidade do Rio de Janeiro e ter o seu elenco composto majoritariamente por cariocas. Aqueles que não têm o sotaque carioca, acabam aprendendo a falar como um. As novelas da TV Globo são exibidas em território nacional e costumam retratar a cidade do Rio. Vale destacar que a maioria das novelas globais ocorrem no eixo Rio-SP, mas tem produções que procuram fugir desse eixo. A Força do Querer (2017), que tinha parte do elenco oriundo de Manaus (AM); O Outro Lado do Paraíso (2017), cuja maior parte dos acontecimentos ocorrem no estado do Tocantins e a série Onde Nascem os Fortes (2018), que tem por cenário a cidade de Recife (PE) e o sertão paraibano são alguns exemplos.

Conclusão

      Embora tenha deixado de ser a capital do Brasil há mais de 50 anos, a cidade do Rio de Janeiro não perdeu o seu status de capital cultural do país, a "cidade-espelho" para as demais. Este posto é um tanto quanto problemático porque muitas vezes a ideia que se tem é de que o Brasil se resume ao Rio de Janeiro, o que não é verdade. Isso porque este país de dimensões continentais abriga belas paisagens desde o Oiapoque ao Chuí. Além disso, a cidade do Rio não é a capital econômica do país, já que, economicamente falando, a cidade mais rica do Brasil é São Paulo (SP). Porém, mesmo sendo a maior cidade do Brasil, a cidade de São Paulo ainda não conquistou o posto de capital cultural do país, que há mais de dois séculos pertence a cidade do Rio de Janeiro. 

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